Entrevista com o Padre Wallace Azevedo

Padre Wallace Azevedo – Pároco na Paróquia Santo Antônio – Guarus

Entrevista:

Da descoberta vocacional:

A vocação já está plantada em nós como um pequeno grão. São aptidões, desejos, inclinações naturais que Deus colocou em nossa personalidade. 

Nossa formação e história de vida vão confirmando ou não essas motivações. Desde criança eu queria ser padre, mas veio a adolescência e eu me defrontei com muitas coisas, tive dúvidas, não queria mais o sacerdócio.

Formação profissional:

Estudei e me formei em Química e comecei a trabalhar. Depois de uma caminhada no grupo de jovens e na minha paróquia, fiz o discernimento com a pastoral vocacional da minha diocese e vi que o Senhor me chamava mesmo para o sacerdócio. 

Quando descobrimos nossa vocação autêntica, encontramos forças para superar todos os desafios. Uma verdadeira vocação é provada!

Da trajetória no seminário

Vocação é o olhar amoroso de Deus a cada um de nós! Entrei para o seminário em 2003, onde permaneci por oito anos. Fui ordenado sacerdote no dia 11/12/2010, hoje tenho 10 anos de padre.

Dos desafios após ordenado

Toda vocação tem desafios; e a do sacerdote é ser, antes de tudo, homem de Deus, ser diferente, estar no mundo sem ser do mundo, ou melhor, estar à frente do mundo. E

u sou um homem igual aos outros, com fraquezas e limitações, mas fui ungido por Deus para ser diferente, ser sinal, exemplo, modelo, pastor.

A solidão é um desafio que pode ser vencido no relacionamento com Deus, na vida de oração e no serviço ministerial. Vencido também com verdadeiras e profundas amizades.

Alegrias são diversas e infinitamente maiores, graças a Deus, na quantidade e na qualidade.

Dos medos e dos enfrentamentos

A vocação não é algo pronto, mas, exige esforços, renúncias e, especialmente, dedicação. Ser padre é, ao mesmo tempo, uma graça e um desafio. Neste tempo de pandemia, também tenho meus medos, porque o medo é inerente ao ser humano e eu não sou a exceção.Mas não devemos deixar o pânico se instalar, é momento de mantermos a serenidade, de refletirmos sobre o que nos é essencial, de desacelerar, de repensar o valor da família, dos amigos, de um abraço.

Não podemos ficar focados só na pandemia, dia e noite, dando crédito a tudo o que nos chega, porque ninguém tem certeza de nada. O mais importante é manter a esperança e a confiança.

Não estamos sós, o Senhor Ressuscitado caminha conosco e Nele encontramos refúgio.

Da dinâmica congregacional (ou de sua ausência)

Em tempos de COVID-19 nos veio a redescoberta e valorização da vida espiritual.

Desde o início da pandemia, paróquias e dioceses tiveram que se adaptar, encontrando formas criativas de chegar próximo dos fiéis. Para os sacerdotes, em sua maioria, foi um desafio.

Eu nunca havia transmitido uma missa pelas redes sociais, e que foi uma novidade, tive que dar as caras e fazer acontecer, levar o Evangelho e entrar na casa das pessoas, dos meus paroquianos de forma diferente, através das lives, dos terços da misericórdia, marianos e da Santa Missa. 

Mas também testemunho os dramas e as dificuldades de um pastor em meio a essa situação de pandemia. Você quer se doar, mas precisa ter sabedoria. Em muitos momentos, não soube o que fazer, se acolhia a família para batizar, se fazia a encomendação de um corpo, se ficava…

É muita vida envolvida, tenho pedido sabedoria  e discernimento para que eu possa tomar as decisões certas, nas horas certas, do jeito certo, para preservar a minha vida e a vida do outro.

Tenho procurado me alegrar com aqueles que estão se alegrando neste tempo, e chorar com aqueles que estão chorando. Ser um com cada pessoa.

Dos sacramentos e celebrações junto ao povo  

Rezar a missa sem a presença física dos fiéis traz uma certa tristeza no coração do padre; ver a igreja vazia, sem movimentação, sem a resposta, aclamações litúrgicas, sem a participação nos cantos, isso deixa-nos entristecidos e emocionados.

Celebrar sem o povo é um desafio muito grande. Rezo para que essa pandemia acabe, para que as vacinas que estão sendo produzidas sejam, de fato, eficazes na cura e no tratamento do coronavírus, para que as ovelhas possam ‘voltar para casa’, para o lugar delas.

Enfim, a Igreja deve ser portadora da grande Esperança que nasce da fé, tanto para o nosso amado povo como para a vida da sociedade inteira. A Esperança Cristã se fundamenta na memória de Cristo. Infelizmente, muitos perderam seus entes queridos ou têm algum familiar em leitos hospitalares. 

Como a fé pode nos confortar e nos direcionar neste momento?

As perdas sempre trazem dor, e quando se trata de um ente querido é uma experiência extrema. A experiência relacionada ao Covid-19 é ainda pior, pois nos tira a possibilidade de velar aquele ente e dar a ele um enterro digno. 

A fé conforta porque cremos. Pois se cremos e temos a esperança da ressurreição, a vida não é tirada, mas sim transformada. Isso não quer dizer que não sofreremos com a perda, quer dizer que saberemos entregar a Deus aquele ente querido. 

Pensar que uma pessoa que amamos está num leito de UTI, lutando pela vida é apavorante e doloroso. Mas Deus não abandona, Ele sempre manda seus anjos para consolar.

Hoje, podemos dizer que esses anjos usam máscaras, estão vestidos com aventais e macacões de proteção. São os profissionais de saúde que servem de ponte entre o paciente e seus familiares e, como temos visto, aqueles que seguram as mãos do doente tentando tornar a morte mais humanizada.

Designer: Eliabe de Souza

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Sobre Vânia Carvalho

 ​ Campista, Comunicadora e mãe de Bianca e Bruno. Como comunicadora social com habilitação em Relações Públicas, atuando como colunista do Jornal Folha da Manhã

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