Entrevista com o médico Psiquiatra José Francisco

Dr. José Francisco de Assis Neto – Médico Psiquiatra

Entrevista:

– Primeiramente, qual o impacto do corona vírus na saúde mental das pessoas?
Existem dois fatores a serem observados sobre o impacto da pandemia na saúde mental. Uma é o período prolongado de isolamento social, principalmente dos idosos e pessoas portadoras de alguma doença que faz parte do grupo de risco; esses tendem a desenvolver quadros depressivos importantes.

O outro aspecto é toda uma gama de sintomas ansiosos e fóbicos que vem surgindo de forma aguda, trazendo, além de um grande sofrimento emocional, a necessidade de afastamento de algumas pessoas de suas atividades laborais.

– Quem não tinha problemas de saúde mental está tendo? E quem já tinha?  Como está sendo diante do isolamento social?
Sim. Tenho observado em pessoas que nunca tinham desenvolvido patologias psiquiátricas o surgimento de quadros clínicos de intensa ansiedade, fobia de contaminação, alguns inclusive com sintomas obsessivos compulsivos por limpeza.

Em relação aos que já são portadores de transtornos mentais, tenho observado no dia a dia um agravamento dos sintomas que são provocados tanto pelo alto grau de ansiedade que momentos como esse trazem, bem como pelo período prolongado de isolamento social, que mesmo sendo necessário traz agravamento principalmente de quadros depressivos.

– Qual a sua opinião sobre a forma como os noticiários expõem os problemas causados pelo corona vírus? Acredita que há sensacionalismo? Isto influencia as pessoas? De que forma?
No início da pandemia observei um certo exagero por parte da mídia que manteve toda sua grade de notícias com o tema,  mas gradativamente outros temas voltaram a serem abordados, e notícias sobre histórias de recuperação do covid 19 começaram a ser abordadas.

O papel da mídia é informar com o máximo de imparcialidade possível, mas no Brasil a pandemia levou a uma reagudização da polarização política que tomou conta do País no período eleitoral, e a mídia não deixa de ser um reflexo da sociedade.

Ocorre que em algumas pessoas já sucetíveis o processo massivo de notícias com conotações negativas levam ao agravamento dos problemas psiquiátricos. Por outro aspecto, é importante lidar com essas questões juntamente com os pacientes pois não temos como fugir o tempo todo da realidade.

– Algumas pessoas, e eu me incluo, têm fobia de uso de máscara; sentem falta de ar, coceira, irritação. Isso  tende a piorar pelo fato de ser obrigatório o uso?
Infelizmente sim. Para os fóbicos a obrigação de ter que fazer ou usar algo geralmente traz aumento dos sintomas ansiosos; nesses casos recomendo usar técnicas de terapia cognitivo comportamental de dessensibilização, que de uma forma simplista seria começar a usar a máscara ou se colocar defronte do objeto que produz medo de forma gradual.

– Qual o sintoma mais comum nos pacientes que te procuram na clínica psiquiátrica?
Como trabalho em diversos locais existe uma grande variedade de quadros clínicos. No caps 3, por exemplo, são em sua grande maioria pessoas que padecem de quadros clínicos psicóticos, como esquizofrenia, transtorno bipolar e pacientes com autismo.

Já no consultório são pessoas que em sua maioria padecem de depressão, ansiedade, toc, agorafobia (medo de espaço público).
Ambos os locais em que exerço meu dia a dia no atendimento clínico tenho observado o surgimento de pacientes com grande sofrimento tanto pelo medo de contrair covid 19 quanto pelo período prolongado de isolamento social.

E pacientes que já estavam bem estabilizados vemos uma grande quantidade que estão reagudizando seus sintomas.

– Quais são os cuidados que o senhor está tomando para o atendimento presencial?
Mantendo o distanciamento de 2 metros entre minha pessoa e o paciente, marcando a agenda com maior espaço entre um paciente e outro, sugerindo a ir somente um acompanhante quando necessário, uso de álcool gel entre uma consulta e outra e, infelizmente, pois sou muito caloroso, não estou recebendo o paciente com cumprimentos de mãos e abraços.

– Os atendimentos online também são possíveis em psiquiatria? Quais as suas recomendações para estes casos?
Sim. Após o início da pandemia está autorizado a telemedicina . Eu, particularmente, prefiro o atendimento presencial, mas tenho feito ambas as modalidades de atendimentos.

Recomendo que ao menos o primeiro atendimento seja presencial, pois nada substitui o olho no olho. Em que tange a confidencialidade, temos atualmente vários programas que nos trazem essa segurança. Eu tenho o hábito de manter o prontuário médico escrito, mesmo quando o atendimento é on line.

– Como médico psiquiatra, o que senhor gostaria de dizer aos meus leitores nesse momento de tanta indecisão e insegurança?
O sentimento maior, e o que tenho mais escutado, é que todos querem poder voltar a se abraçar, beijar, sair com os amigos e familiares, assistir um filme no cinema com a namorada (o), ver um jogo de futebol com estádio cheio.

Mas no momento isso não é possível; então, quem está de quarentena aproveite o tempo para perceber como uma coisa simples como um beijo é tão necessário para nós seres humanos.

Fotos: Fernando Cerqueira

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Sobre Vânia Carvalho

 ​ Campista, Comunicadora e mãe de Bianca e Bruno. Como comunicadora social com habilitação em Relações Públicas, atuando como colunista do Jornal Folha da Manhã

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