A entrevista de hoje foi com a médica pediatra e neonatologista Nazareth Machado
Dra. Nazareth Machado – Médica
– Fale sobre a sua área de atuação
A minha área é Pediatria e Neonatologia; a faixa etária principal é de até 2, 3 anos, embora atenda também crianças mais crescidas.
Atualmente eu trabalho nas salas de parto, no consultório, e na PMCG, onde estou em regime de plantões. Eu sou concursada para ambulatório, mas, por conta da pandemia, foi transferida para plantão.
– Como ficou a sua rotina de atendimento neste período de isolamento? Além da rotina de ter passado do ambulatório para plantão na PMCG, no consultório tive que reduzir bastante o número de atendimentos, já que não pode haver aglomeração.
Foi necessário reduzir em torno de 50 a 60% do atendimento no consultório. No início foi mais radical; veio o lock down suspendendo o atendimento por completo, mas com em torno de 45 dias foi implementado o retorno de forma lenta e controlada, e o atendimento permanece com restrições de segurança que valem para todos.
– O que as mães se queixam no momento?
As mães se queixam principalmente da redução do atendimento, porque elas querem o atendimento para suas crianças abaixo de um ano, que tem que ter consulta mensal, e, por ter diminuído bastante o número de atendimentos, às vezes não se consegue com 30 dias, tem que ser com 45 dias de intervalo, e elas se queixam muito disso; por outro lado, se há uma urgência elas não querem ir ao pronto socorro, por conta do medo de contágio do coronavirus, e eu, para manter o protocolo, não posso fazer muitos encaixes na agenda, o que cria realmente uma situação complicada, tanto é que as crianças maiores estão afastadas de consultório, porque é rotina, então está sendo adiada para pós-pandemia
– Em que a sua especialidade está contribuindo para a sociedade neste momento?
Eu penso que minha especialidade, a Neonatologia, que são as salas de parto, não sofreu tanto impacto porque as crianças continuam nascendo e o acompanhamento naquele momento é necessário;
– Qual tem sido o seu aconselhamento neste momento? Nos cabe orientar as mães a não sairem de casa com as crianças, a manter os bebês o mais isolados possível; aqueles pais que venham a ser acometidos pela COVID a gente orienta na questão do isolamento.
Orientamos o aleitamento materno como uma arma importante para o fortalecimento da imunidade da criança. Além disso, peço às mães fazerem uma alimentação melhor possível para as crianças, e evitar aglomeração; ficar o máximo possível em casa.
Bem sabemos que, estando desde março em casa com os anjinhos, com aulas on-line e tudo o mais, está ficando cada vez mais difícil controlar, mas, repetimos, permanece a importância de se observar todos os cuidados e recomendações sanitárias.
É uma doença muito nova; a cada momento surge uma novidade, um quadro clínico diferente se forma, como se o vírus estivesse em mutação. Enquanto não tivermos a vacina, o melhor que se tem a fazer é tentar ficar o máximo possível em casa ou em lugares nos quais não haja aglomeração.
– Qual a sua visão sobre tudo que estamos passando?
Eu vejo que após esta pandemia as coisas não vão voltar a ser como antes; as pessoas estão começando a rever muitas coisas na vida… coisas às quais dávamos muita importância vimos que importância nenhuma têm.
A vida é muito tênue, estamos todos nos reinventando. Há quem descubra atributos que sequer imaginava ter, além de grandes descobertas pessoais, por isso, repito, nada será como antes.
– Finalize com palavras de otimismo para os meus leitores.
Eu acredito, apesar de tudo, que sairemos pessoas melhores; mais simples, mais caridosos, com um olhar melhor sobre o outro, e, se Deus quiser, a cura não vai demorar tanto e, apesar das grandes perdas, ganharemos em qualidade de vida.